domingo, 6 de dezembro de 2015

Um Bolero inesquecível...

Quando eu era criança e as pessoas perguntavam "o que você quer ser quando crescer?", eu respondia como quase todas as meninas da minha época, "quero ser bailarina". É difícil não se encantar com a beleza de uma bailarina e seus saiotes, suas pontas de pés e mãos, sua delicadeza e leveza... As pequenas (e até alguns pequenos) ficam enfeitiçados.

Hoje, mais cedo, pelas redes sociais, vi um vídeo de uma música que me remeteu a esse sonho de infância. A música era "Bolero de Ravel", mas, no caso, apresentada por Andre Rieu. Assim que ouvi as primeiras notas dessa música, de imediato, veio-me aos olhos, a imagem de um homem, magro, cabelos claros, sem blusa, dançando em cima de um palco redondo. Tive que procurar.

Esse homem era Jorge Donn, um famoso bailarino argentino, falecido em 1992. Nunca havia procurado informações sobre ele, até hoje. A questão é que, mesmo sem saber de quem se tratava, posso dizer que ele, por volta dos meus oito ou nove anos, me hipnotizou ao dançar esta música.

Lembro-me de está mudando os canais da tv, quando, de repente, me deparo com a tal figura, dançando uma música forte, e, aos meus ouvidos, muito agradável. Parecia uma serpente, bailando sorrateira para sua presa. A coreografia nem de longe lembrava (a mim) a sutileza de uma bailarina, mas aquilo me prendeu, não conseguia sair da frente da tv, e nem queria que acabasse. Fiquei impressionada com aquele homem dançando. Achei mágico.

Não sei explicar exatamente porque aquela cena me chamou tanta a atenção. Talvez por ter gostado da música, ou por achar forte, não sei... Mas, de verdade, arrisco dizer que me encantei pela ideia de ver um homem dançando de forma tão diferente, tão livre, tão do seu jeito. Aquilo, com certeza, mudou minha ideia de dança. Percebi que não precisava usar uma sapatilha, vestidos leves e esvoaçantes, seguir um padrão tão rígidos de passos, para dançar bonito. Vi ali que a dança é uma expressão de liberdade, e que nem sempre precisa ser tão perfeito. 

Certamente, com aquela idade, meus pensamentos não foram construídos desta forma que relatei aqui, e nem saberia recriá-los agora, mas, basicamente, a ideia era algo como "olha, ele parece 'tá' dançando do jeito que ele quer dançar", como se estivesse sendo levando pela música, como se não tivesse criado uma coreografia para ela, e sim, decidido dançar conforme sentisse vontade.

Cresci e não me tornei bailarina. Adoro dançar (o que não significa que sou uma exímio dançarina, estou até bem longe disso), mas nunca passei do básico. Amo a dança e suas várias expressões e sensações. A música, pra mim, é um dos alimentos para a alma e a dança um dos caminhos para o paraíso.

As bailarinas ainda me fascinam, da mesma forma que ainda despertam em mim aquela pequena sonhadora... Quanto àquele homem, serei sempre grata por me emprestar alguns de seus passos, nos vários momentos em que me entreguei à liberdade, dançando sozinha no meu quarto, deixando a música me levar, durante tantos anos...





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